O transtorno do espectro autista (TEA) caracteriza-se por dificuldades acentuadas na comunicação e na interação social, pelos interesses muito restritos e pelos movimentos repetitivos. Sob o termo “espectro” assentam-se inúmeras gradações e características, sendo uma das mais famosas a Síndrome de Asperger. Pesquisas já confirmaram cerca de 100 genes associados a etiologia deste transtorno e isto gera muita esperança de um dia surgir uma terapêutica que possibilite sua cura. Atualmente, porém, nenhum tratamento exclusivamente médico consegue, nem de longe, oferecer uma solução definitiva. Além disso, não se descarta o caráter multifatorial da etiogenia dos TEAs. Ainda que sua origem possa ser localizada no gene, é inegável que o autismo se caracteriza por uma dificuldade na relação com a linguagem, com o simbólico, com a simbolização, ou seja, com aquilo que nos permite dar um sentido à nossa relação com o externo e o interno, com o mundo, com os outros, conosco mesmos e com o nosso corpo. A dissociação entre a voz e a linguagem é o fundamento do falar caricatural e vazio, às vezes robotizado, não dirigido ao outro, bem como a recorrente recusa à posição de enunciação. Nada mais são que os efeitos de uma operação de autodefesa contra tudo o que é do registro do Outro, um Outro que está colocado sempre na eminência de invadi-lo. O comportamento repetitivo e a pantomima têm como função também, a construção de uma seriação que lhe ofereça algum ordenamento, uma tentativa de autoconstrução, na forma de um encapsulamento que tenta aliviar a relação conturbada que mantém também com seu próprio corpo. Há um sujeito no autista, o que faz de cada um deles, um caso único, com dificuldades, recursos e possibilidades singulares. E como sujeito, é a partir de seu próprio ser que ele encontrará um modo de existir e de estar com os outros. Da forma que for possível pra cada um. Como todos nós.