Estamos cada vez mais sensíveis às transformações que a realidade contemporânea vem nos apresentando. A possibilidade de escrever a respeito da mulher negra é uma importante representação dos resultados que começamos a colher, quando se trata de igualdade de raças. De um ponto de vista subjetivo, algo que foi transformador na psicanálise, foi o direito de escuta, uma fértil fonte de integração. E hoje com o movimento negro, vem se conquistando ouvintes.Passar o bastão para quem tem a propriedade na “pele” de verbalizar a sua realidade é o mais genuíno para se aproximar da singularidade do outro, de suas vivências e emoções.Milhares de gerações negras foram caladas e cresceram ouvindo pessoas, que não eram da sua raça, moldando a sua existência, ditando seu padrão de beleza, os ofícios que lhe eram “cabíveis” e como os corpos negros eram valorizados quando sexualizados. Uma criação alienada de si mesma, desvalorizada e com padrões inalcançáveis. Construíram-se milhares de identidades conforme o desejo de outros, com base em uma estrutura colonial.Por muito tempo a mulher negra foi impedida de tornar-se e de desejar sem temor, por falta de representatividade, por não se enxergar nos melhores cenários, nas categorias profissionais às quais elas serviam. Crescer achando que há pessoas “superiores” que sabem mais a respeito de você do que você, desenvolve a repressão e retaliação. E quando vemos os sintomas aparecerem? Quando nosso inconsciente é censurado (FREUD, 1895).Ancestrais negras se liberaram desse pensamento cativo, se apropriando de si e da sua cultura, lutando para serem ouvidas, buscando a descolonização do pensamento sobre a raça; pesquisando informações verdadeiras a respeito da história do nosso povo antes de ser escravizado. Graças a elas, começamos a ter esperança para a igualdade como mulheres negras..Rithielli R Silva - Psicóloga clínica - Cooperada UNIPSICOCRP 06/120541